Sempre me surpreendo quando alguém me diz ser pai adotivo. Tento ser ainda mais surpreendente e replico que também tenho dois filhos adotivos.

Adotei meus filhos quando eles nasceram, na verdade uns meses antes, enquanto acompanhava a barriga da minha esposa crescer durante a gravidez. Foi o melhor período da minha vida - tirando o tempo presente, em que os beijo e abraço ao vivo todos os dias.

Adotei meus filhos biológicos porque não saberia ser menos pai que pai adotivo. Os pais adotantes são pais por opção de amor.

Os filhos adotados sabem o valor que seus pais do coração têm. Dá para ver no olhar deles o orgulho de terem sido eleitos e não apenas recebidos em casa, muitas vezes apenas por obrigação de DNA.

Pergunte a uma criança adotada com quem ela quer ser parecida quando crescer: com o pai biológico ou com o adotivo. Alguém tem duvida da resposta? Todo mundo é parecido com o pai verdadeiro. E o nosso pai verdadeiro é aquele que nos dá carinho, atenção e nos educa.

Que importância tem saber quem são aquele homem e aquela mulher que fizeram sexo nove meses antes da gente nascer? Sexo é uma coisa maravilhosa, mas nada tem a ver com paternidade.

Ter filhos tem a ver com dignidade, respeito, compreensão, família. Aliás, tudo isto que tem a ver com nossos filhos me faz pensar que para adotarmos nossos filhos biológicos precisamos perguntar a eles se querem ser nossos filhos. Será que nossos filhos aceitam ser nossos filhos adotivos? Será que conhecendo-nos como nos conhecem, sabedores do tempo que nos dispomos a eles, do carinho, do cuidado que lhes damos, vão querer ter pais assim, como nós? Se o olhar do seu filho lhe escolhe como pai, então você é um pai adotado.

No final das contas é mais fácil ser pai biológico e não precisar contar com a conformidade de escolha das crianças e nem se responsabilizar por elas. Mas a melhor coisa do mundo é ser adotado como pai pelo próprio filho, biológico ou não.

Claudemir Casarin dos Santos - Psicólogo